Desde a época das redações escolares eu primeiro escrevia, para depois intitular a obra. Assim eu me acostumei e assim sempre fiz. Minto. Uma vez eu quis puxar o saco da professora de português e escrevi uma redação que tinha o seguinte título: "A agenda da Marina". Marina era a mestra, o tema era livre e guardo este primor da composição literária puxa-sacal até hoje. Não sei bem o motivo. Humpf, vai ver que não sei lidar bem com o desapego.
Eu domino a arte de estragar tudo. Desde criancinha. Quando algo está indo bem - podemos trocar este bem por tranquilidade - eu arranjo uma maneira de desestabilizar. Acho que me acostumei a andar na merda, e quando caminho sob nuvens, devo sentir falta de algum cheiro. Ui. O lance é: não sei me portar em situações nunca antes vividas. A novidade meio que me amedronta. Acho que estou sempre fazendo algo errado. Deveria haver uma cartilha, ensinando e explicando como proceder. Quando somos pequenos e começamos a comer sozinhos, não colocam um prato de rabada na nossa frente e nos abandonam a própria sorte. Não mesmo! A mãe ensina que devemos comer de garfo e faca, sem fazer bagunça. Comida não é brinquedo. Não nascemos sabendo disso, mas somos avisados. A genitora - ou a babá, vá lá - nos mostra como fazer, segura na nossa mãozinha gordinha e só larga quando o risco de sujeira iminente é baixo ou nulo.
Sou obcecada pela perfeição. E ao primeiro sinal de possibilidade de falha eu bagunço tudo, como uma cliente maluca em uma loja em liquidação. Excluir é mais fácil do que tentar consertar - ou me sair bem. Dou as costas e saio, mas somente após ter garantido a desordem. Fico com medo de errar, de não agradar... e volto pro lugar onde estou acostumada: a estaca zero. Fiz isso neste final de semana. Eu acho.
(continua)
Um comentário:
"Viver é desenhar sem borracha" (Millôr)
Simples assim, querida...
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