segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A ARTE DE ESTRAGAR TUDO


Dificilmente eu começo um texto pelo título. Geralmente eu tenho um ideia, organizo os pensamentos, escrevo, leio e releio e só depois procuro um título atraente. Neste grande açougue virtual chamado internet, onde os blogs estão fatiados e expostos - muitas vezes às moscas - um título bacana capaz de instigar um internauta passante é como um bom slogan para uma loja de varejo. "Casas Bahia, preço baixo todo dia!".  Bom, não sei se acabei de descobrir um talento (criar slogans populares), ou se realmente isso que é dito na propaganda. Tenho visto pouca televisão e não tenho a memória do Antônio Fagundes. Infelizmente. O fato é que você entra nas casas Bahia porque sabe que lá é barato. Na real pode até nem ser, mas aí você já está lá. E só vai depender de o gerente ter colocado produtos interessantes nas prateleiras para ganhar um cliente.

Desde a época das redações escolares eu primeiro escrevia, para depois intitular a obra. Assim eu me acostumei e assim sempre fiz. Minto. Uma vez eu quis puxar o saco da professora de português e escrevi uma redação que tinha o seguinte título: "A agenda da Marina". Marina era a mestra, o tema era livre e guardo este primor da composição literária puxa-sacal até hoje. Não sei bem o motivo. Humpf, vai ver que não sei lidar bem com o desapego.

Eu domino a arte de estragar tudo. Desde criancinha. Quando algo está indo bem - podemos trocar este bem por tranquilidade - eu arranjo uma maneira de desestabilizar. Acho que me acostumei a andar na merda, e quando caminho sob nuvens, devo sentir falta de algum cheiro. Ui. O lance é: não sei me portar em situações nunca antes vividas. A novidade meio que me amedronta. Acho que estou sempre fazendo algo errado. Deveria haver uma cartilha, ensinando e explicando como proceder. Quando somos pequenos e começamos a comer sozinhos, não colocam um prato de rabada na nossa frente e nos abandonam a própria sorte. Não mesmo! A mãe ensina que devemos comer de garfo e faca, sem fazer bagunça. Comida não é brinquedo. Não nascemos sabendo disso, mas somos avisados. A genitora - ou a babá, vá lá - nos mostra como fazer, segura na nossa mãozinha gordinha e só larga quando o risco de sujeira iminente é baixo ou nulo.

Sou obcecada pela perfeição. E ao primeiro sinal de possibilidade de falha eu bagunço tudo, como uma cliente maluca em uma loja em liquidação. Excluir é mais fácil do que tentar consertar - ou me sair bem. Dou as costas e saio, mas somente após ter garantido a desordem. Fico com medo de errar, de não agradar... e volto pro lugar onde estou acostumada: a estaca zero. Fiz isso neste final de semana. Eu acho.

(continua)

Um comentário:

Flávio disse...

"Viver é desenhar sem borracha" (Millôr)

Simples assim, querida...