quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O sapo e a cachorra


Pensei em ficar um tempo sem escrever. É, fechar o blog pra balanço.

Mas estive pensando... quem precisa de um balancete sou eu. Vivo intensamente, emoções à flor da pele, me dando e doando pras pessoas erradas, cobrando promessas nunca feitas. E detalhe: parece que eu sou uma leprosa pedindo colo. Um cão da rua querendo um dono. Um ser desprezado que quer companhia, paixão. E no fundo, acho que é isso mesmo. Não gosto de ficar sozinha. Não tenho pai, nem avós. Minha mãe mora longe. Irmãos e tios não existem na minha família.


Alguns vira-latas conseguem encontrar um dono. Têm sorte. Será que pertenço ao time dos azarados? Já não basta ter nascido sem o cobiçado "pedigree"? A cachorrinha ruiva de olhinhos castanhos esverdeados cansou de revirar latas atrás de comida. Ela quer afagos e carne de primeira! Linhagem eu até dispenso...


O grande lance é que tenho o dedinho podre. Mas beeeeeeem podre. Eu só gosto dos complicados, dos enrolados e dos problemáticos. Os proibidos, os feios, os bocas-sujas, os músicos, os bailarinos, os mestres. Os "algo mais". O psiquismo abalado me atrai. A complicação, a contradição. A afinidade e a ilusão. Quero decifrar os enigmas, trazer luz, resolver os problemas, viajar (cada um paga o seu, sem problemas!), dar presentes... os normais são legais, mas facilmente me enjoam. Meu lance é sudoku (sem trocadilho), palavras cruzadas tô fora!



Mas será que um sapo imoral, depois de ceder aos meus predicados não se revelaria um príncipe normal? No fundo somos todos iguais. Querendo carinho, abraço, papo interessante e um pouco de atenção no fim de um dia chato e estressante. Sabendo disso (que o encanto pode dizer que vai comprar cigarros e nunca mais dar as caras), tenho de relaxar e curtir a incerteza que traz emoção e encantamento aos sapinhos. Pensando no momento, sem delonga e demora, se entregando na hora. A cachorra tem de curtir ter companhia pra revirar o lixo, sabendo que depois comerá sozinha.
Ou apreciar um cãozinho arrumadinho, que aparentemente não oferece emoção, mas que certamente lhe dará um pedaço do próprio coração. Além da sua constante presença.





É de fácil entendimento e explicação o porquê da minha solidão. Sou uma máquina de sentimentos retidos, prontinha pra explodir. Quero dividir o amor que eu tenho em mim com alguém. Por isso me apego fácil. Uma vez me disseram que "quem se apega é gato". Pois é... eu tenho quatro. Mas seus afagos, lambidas e mordidinhas não me bastam. Eu quero diálogo. Mais que sexo (que eu adoro, mas sou difícil), eu preciso de companhia. Ter alguém para dividir a mesa do café depois de uma noite bem dormida (com ou sem sexo). Abraçar sentindo a alma e beijar diariamente. Sentar no sofá embaixo de um fofo edredom e assistir um filme iraniano enroscando os pés.



Mas para isso, tenho de parar de revirar latas e entrar em uma pet-shop. Não estou super feliz, mas também não estou deprê. Só ando um pouco cansada das ruas. Acho que vou dar uma mudada e ficar quietinha, só pra ver qual é. Vai que tenha um sapo de perna quebrada se recuperando e a gente se encontra no quentinho?

2 comentários:

Unknown disse...

Liz, vc eh de uma contradição tão esclarecida que até assusta... Adoro seus escritos. Bjs

iQue disse...

Adoro esse linguajar metafórico!!!

Ele flui com naturalidade ou você para pra pensar?!

Em alguns casos como no meu, externo da língua pra fora, não sei se é a mecânica do cérebro que preguiçosa expõe de forma espontânea o primeiro pensamento.

Para alguns sinceridade, para as outras grosserias, as que concluem pela velocidade que isso é sinceridade, as guardo por perto, as que imaginam serem grosserias, pensam demais e não me agrada.